Na correria do nosso
dia a dia sempre faltam horas e sobram afazeres. Estudar trabalhar
limpar a casa cuidar das crianças fazer compras pagar contas ficar
bonita manter-se saudável malhar. Ufa! É tanta coisa que só de
pensar já passa um filme na nossa cabeça e um frio na barriga. E
como é bom ao final do dia considerar-se cumpridor de todos os
deveres. Excelente! Mas, amigo, abra os olhos. A VIDA É MUITO MAIS
QUE ISSO. E a pergunta que não quer calar é: o que realmente
importa quando chegamos ao fim dela?
Serão os almoços em
família e os aniversários de criança que perdemos porque tínhamos
uma prova ou um trabalho importante a fazer? Ou ainda todo aquele
dinheiro na conta do banco que poderíamos ter gasto em uma viagem
inesquecível? Talvez seja aquela conversa na varanda em um fim de
tarde que não existiu porque estávamos cansados demais pra passar
um tempo conversando com quem a gente ama? Ou a sobremesa deliciosa
que deixamos de comer por causa da dieta fitness?
Não, eu não estou
dizendo que precisamos jogar para o alto todas as nossas
responsabilidades e fazer apenas o que nos é prazeroso. Longe de
mim! É claro que precisamos trabalhar ou não teremos dinheiro para
sobreviver, precisamos estudar ou não vamos adquirir todo
conhecimento do qual necessitamos. Eu só acredito que, entre tantos
deveres, deveríamos lembrar o direito que temos de ser feliz.
Afinal, no fim da vida
o que realmente importa são esses pequenos instantes. São eles que
nos proporcionam desfrutar de doces recordações e reviver esses
prazeres. É o momento que passamos com nossa família, o riso solto
das piadas que podem nem ser tão engraçadas assim, aquele mico que
na hora faz a gente querer enfiar a cabeça num buraco mas que depois
vira diversão. São as histórias que teremos pra contar.
É como uma colcha de
retalhos na qual costuramos um pedacinho todo dia. O álbum de fotos
que guarda as recordações que por vezes nossa cabeça esquece. A
carta de um amigo querido que nos emociona a cada palavra. A canção
que serviu de trilha sonora para o romance.
A travessura malsucedida, a fuga cinematográfica e o castigo ainda mais digno de
filme. O tombo que você levou quando aprendemos a andar de bicicleta
e o machucado que não sarava porque você tirava sempre a casquinha.
O flashback que foi de Bonde do Tigrão à É o Tchan em que você
dançou todas as coreografias. O videokê em que seu tio cantava
panela velha e você Sandy e Júnior ou Mamonas Assassinas. A
cumplicidade das suas amigas que iam com você comprar absorvente e
te ajudavam a escondê-lo em várias sacolas dentro da bolsa. O tampo
do dedo que você perdeu marcando aquele golaço na pelada do
asfalto. A franja que ficou mais curta do que deveria. A primeira vez
na praia olhando a imensidão daquele mar sem fim. Os infindáveis
meses estudando pro vestibular; a decepção de não ter passado e a
alegria da aprovação. O primeiro salário do primeiro emprego. A
rosa que ganhou do namorado acompanhada de um bilhete super fofinho.
A briga com seu melhor amigo e a alegria da reconciliação. O dia em
que descobre que tudo que seus pais fizeram foi realmente pensando no
seu bem, mesmo eles não sendo perfeitos como você e todo mundo
também não são. E o muito mais que anda há pra ser vivido. Tudo
isso faz o que você é.
Dizem que, no último
instante, fazemos uma retrospectiva de tudo que já vivemos. E daí
pode surgir o arrependimento justamente por não ter vivido como
gostaríamos. Então, não espere o momento em que não se possa mais
recomeçar (não nesta vida), e faça hoje o que amanhã você
desejará ter feito.