Sabe quando você sempre teve
certeza do que quer, mas percebe que o caminho não será nada fácil? Pois é. Eu
sempre quis fazer Direito. Meu sonho sempre foi ser advogada. E demorou alguns
anos, mas eu finalmente consegui entrar em uma universidade pública. Mas sempre
tem aqueles dias em que a gente se pergunta: é isso mesmo? E bate aquela
insegurança de não saber se conseguirei ser a profissional excelente que sempre
imaginei.
Estou de férias. Mas como ano
passado foi de greve, só tive mesmo natal e ano novo. E enquanto os outros
curtem um merecido descanso, meus dias são cheios de trabalhos e estudos para
prova. Chega uma hora que cansa, e embora eu ainda tenha certeza que é isso que
eu quero, bate aquela deprê de leve. E eu tenho que lembrar que, por vezes, tudo
que eu mais sonhei e desejei com toda minha alma era estar onde estou agora,
passar pelas dores e as delícias dos meus dias de acadêmica.
Talvez eu já soubesse que seria
assim. Minha mãe bem que avisou: quem faz Direito tem que ler muito! E, como
sempre, ela estava certa. O problema é que tem tantas outras coisas com as
quais consumo meu tempo que nem sempre arranjo espaço na agenda pros livros da
faculdade e, assumo vergonhosamente, acabo recorrendo aos resumos. Sempre
adiando.. até o fim do semestre eu leio.. até o fim do curso... talvez dê pra
ler até o fim da vida.
É tanta coisa, que eu me sinto
culpadíssima e uma péssima estudante e isso faz vir à mente aquela perguntinha
que insiste em mexer comigo: “que tipo de advogada eu serei”? Pois se o meu
cliente precisar de uma informação destes livros e eu não tiver lido dos ditos
cujos, não terei feito a lição de casa. E às vezes até mesmo a vida de alguém
fica nas mãos do advogado. Não é uma brincadeira. É mais sério do que se
imagina. Há muita responsabilidade envolvida.
Nesse momento, pra iludir meu
coração e tentar aliviar minha consciência, nivelo por baixo. Pois sei que tem
muitos colegas que não fazem nem metade do meu esforço e sequer estão
preocupados com isso. O importante é só ter o diploma nas mãos para mostrar aos
pais e o salário gordo na conta no fim do mês. Mas não consigo me enganar. Não
é com eles que eu tenho que me comparar ou me preocupar. Tenho sim que seguir o
exemplo daqueles que se esforçam para dar sempre o seu melhor, e conseguem.
E no meio de todos esses
pensamentos, apenas o que eu sinto é capaz de acalentar meu espírito. É que
dentro do meu coração eu guardo a certeza de que esta é a profissão que dá sentido
à minha batalha, e pela qual eu vou lutar com todas as minhas forças. A
esperança e a vigilância que irão para sempre caminhar comigo, para que eu
jamais me esqueça dos meus ideais e nunca me deixe corromper, vendendo valores
por dinheiro.
O lugar que eu quero estar é lá
no tribunal, defendendo uma pessoa e uma causa que eu acho justas. Lutando
contra o mundo se necessário apenas para fazer o que considero certo e digno.
Dar a mão amiga a quem não tinha nenhuma esperança e poder devolver o brilho
aos olhos dele. Estar do lado mais fraco e fazê-lo forte. Sim; é isso que eu
sempre quis e continuo querendo.
E não é uma questão de brincar de
Deus. Ou de condenar o outro. Está mais para aprender juntos. Manter o que for
bom e consertar o que está errado. Olhar o horizonte e trilhar uma boa direção.
Dormir um sono tranquilo à noite, com a sensação de que fiz o melhor que eu
podia. É confiar em Deus e saber nunca estamos sós quando decidimos fazer o
bem.
E por fim, talvez mais importante
que tudo isso que eu disse, não achar que eu sou minha profissão, e lembrar que
ela é uma parte de mim que transborda. Não é a toga, os livros enormes, ou o
tribunal que fazem de mim uma mulher de bem. É o carinho e o respeito com os
quais eu trato quem me cerca, são as pequenas boas ações do meu dia a dia, é o
abraço e o beijo carinhoso nos meus familiares, é o sorriso e os braços abertos
para os meus amigos. É ser luz onde eu estiver.