terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O que importa é quem eu sou


Sabe quando você sempre teve certeza do que quer, mas percebe que o caminho não será nada fácil? Pois é. Eu sempre quis fazer Direito. Meu sonho sempre foi ser advogada. E demorou alguns anos, mas eu finalmente consegui entrar em uma universidade pública. Mas sempre tem aqueles dias em que a gente se pergunta: é isso mesmo? E bate aquela insegurança de não saber se conseguirei ser a profissional excelente que sempre imaginei.

Estou de férias. Mas como ano passado foi de greve, só tive mesmo natal e ano novo. E enquanto os outros curtem um merecido descanso, meus dias são cheios de trabalhos e estudos para prova. Chega uma hora que cansa, e embora eu ainda tenha certeza que é isso que eu quero, bate aquela deprê de leve. E eu tenho que lembrar que, por vezes, tudo que eu mais sonhei e desejei com toda minha alma era estar onde estou agora, passar pelas dores e as delícias dos meus dias de acadêmica.

Talvez eu já soubesse que seria assim. Minha mãe bem que avisou: quem faz Direito tem que ler muito! E, como sempre, ela estava certa. O problema é que tem tantas outras coisas com as quais consumo meu tempo que nem sempre arranjo espaço na agenda pros livros da faculdade e, assumo vergonhosamente, acabo recorrendo aos resumos. Sempre adiando.. até o fim do semestre eu leio.. até o fim do curso... talvez dê pra ler até o fim da vida.

É tanta coisa, que eu me sinto culpadíssima e uma péssima estudante e isso faz vir à mente aquela perguntinha que insiste em mexer comigo: “que tipo de advogada eu serei”? Pois se o meu cliente precisar de uma informação destes livros e eu não tiver lido dos ditos cujos, não terei feito a lição de casa. E às vezes até mesmo a vida de alguém fica nas mãos do advogado. Não é uma brincadeira. É mais sério do que se imagina. Há muita responsabilidade envolvida.

Nesse momento, pra iludir meu coração e tentar aliviar minha consciência, nivelo por baixo. Pois sei que tem muitos colegas que não fazem nem metade do meu esforço e sequer estão preocupados com isso. O importante é só ter o diploma nas mãos para mostrar aos pais e o salário gordo na conta no fim do mês. Mas não consigo me enganar. Não é com eles que eu tenho que me comparar ou me preocupar. Tenho sim que seguir o exemplo daqueles que se esforçam para dar sempre o seu melhor, e conseguem.

E no meio de todos esses pensamentos, apenas o que eu sinto é capaz de acalentar meu espírito. É que dentro do meu coração eu guardo a certeza de que esta é a profissão que dá sentido à minha batalha, e pela qual eu vou lutar com todas as minhas forças. A esperança e a vigilância que irão para sempre caminhar comigo, para que eu jamais me esqueça dos meus ideais e nunca me deixe corromper, vendendo valores por dinheiro.

O lugar que eu quero estar é lá no tribunal, defendendo uma pessoa e uma causa que eu acho justas. Lutando contra o mundo se necessário apenas para fazer o que considero certo e digno. Dar a mão amiga a quem não tinha nenhuma esperança e poder devolver o brilho aos olhos dele. Estar do lado mais fraco e fazê-lo forte. Sim; é isso que eu sempre quis e continuo querendo.

E não é uma questão de brincar de Deus. Ou de condenar o outro. Está mais para aprender juntos. Manter o que for bom e consertar o que está errado. Olhar o horizonte e trilhar uma boa direção. Dormir um sono tranquilo à noite, com a sensação de que fiz o melhor que eu podia. É confiar em Deus e saber nunca estamos sós quando decidimos fazer o bem.

E por fim, talvez mais importante que tudo isso que eu disse, não achar que eu sou minha profissão, e lembrar que ela é uma parte de mim que transborda. Não é a toga, os livros enormes, ou o tribunal que fazem de mim uma mulher de bem. É o carinho e o respeito com os quais eu trato quem me cerca, são as pequenas boas ações do meu dia a dia, é o abraço e o beijo carinhoso nos meus familiares, é o sorriso e os braços abertos para os meus amigos. É ser luz onde eu estiver.

Por algum tempo me enganei, achei que ser advogada era o que de mais importante eu poderia fazer na vida. Quanta cegueira e pretensão! Não se trata do que eu faço e sim de quem eu sou. O bem e o amor podem estar em todos os lugares. Eu só devo aproveitar a profissão com a qual ganharei meu pão e torná-la alento para o coração dos meus irmãos.

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