domingo, 23 de setembro de 2018

Fotografia


Eu adoro calor... o sol tocando minha pele, aquele quentinho gostoso no rosto e um vento pra refrescar. Mas hoje está calor mesmo, daqueles dias em que a gente pinga suor se ficar dentro de casa. Pois eu estava. Resolvi organizar os velhos álbuns de fotografia.

Dificilmente os vejo. Tive uma vida muito feliz [e ainda tenho]. Só que prefiro evitar a nostalgia, e relembrar o que não volta. Às vezes isso causa uma pontinha de tristeza. Eu nunca mais serei aquela criança de olhos brilhantes que faz pose pra foto, nem meus pais serão casados outra vez, e nenhum de nós que está ali voltará a ser jovem. Por isso tudo, a fotografia me fascina. Ela é mais eficiente que nós ao guardar as recordações.

Com o passar dos anos, muita coisa se apaga da nossa memória, embora ainda possamos nos lembrar mais nitidamente de outras. Mas, quando certos momentos são registrados em uma foto, e depois de muito tempo podemos vê-la, aquelas mesmas emoções que sentimos voltam a palpitar no nosso coração. Talvez isso explique porquê preferimos registrar os momentos felizes.

Ah... maldita câmera digital. Quantos momentos desses ficaram perdidos em algum lugar do passado. Antes eram 36 oportunidades, de cada vez, para registrar a vida. E ainda que não ficássemos tão bem, não importava. Hoje, há milhões de registros que dificilmente são revelados. Fazemos poses, alteramos as imagens para que fiquem melhores aos olhos dos outros, e esquecemos que a lembrança é da gente, não deles. E é pra nós que ela importa mais.

Hoje, ao rever tanta vida que tem significado pra mim, não fiquei triste. Senti gratidão pelo que passou. Além disso, me deu um friozinho na barriga ao pensar em todos os bons momentos que ainda virão para serem registrados.  A vida é curta demais para não ser vivida com alegria e para não ser eternizada em uma foto.

Assim, com esse sentimento de que é preciso viver e ser feliz, saí com minha prima debaixo do sol escaldante e fomos comprar picolés. Quando voltamos pra casa, naqueles poucos instantes em que saboreávamos as delícias feitas de leite entre as conversas com nossos avós e a insistência do Scooby para que déssemos mais picolé a ele, pensei que esse era um bom dia para ser lembrado.

Depois, vim pra casa do meu namorado; e, entre um semáforo e outro, eu me perdi nos meus pensamentos imaginando o dia do nosso casamento; as datas festivas em que receberíamos os amigos em casa; a oportunidade de ver nascer e crescer nossos filhos que eu tanto amo; e outros milhões de momentos que merecerão uma foto e uma lembrança. Que beleza de vida!

Sabe, eu sou espírita, e acredito que não terminamos com a nossa morte. Há uma infinidade nos esperando depois dela. Centenas de outras encarnações, cheias de surpresas boas. Mas nem por isso eu me permito perder essas pequeninas alegrias. Pois posso até ter muitas outras vidas, mas nunca igual a essa. E isso torna tudo especial.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O conhecimento liberta a alma


E minha alma quer ser livre.

Tenho pensado muito em ser professora. Depois de tantos anos estudando, sinto que começo a aprender coisas realmente importantes. E na minha ansiedade por mudar o mundo, talvez ensinar seja a minha pequena revolução.

Outro dia assisti ao filme "Uma professora muito maluquinha", baseado em um livro do Ziraldo. Desde a década de 40, a professora Catarina Roque era revolucionária. Contou histórias sobre as personalidades do mundo de maneira divertida; levou os alunos ao cinema para conhecerem a vida de Cleópatra; foi estudar geografia com eles em cima do morro pra que vissem que o mundo é maior que os livros; compreendeu suas angústias e os acolheu - ensinou um código para que as meninas pudessem escrever bilhetinhos sem que os meninos pudessem ler seus segredos; ensinou que é preciso lutar pelo amor e pela felicidade - ao desafiar as professoras que invejavam seus métodos e ao fugir com o padre que era o grande amor da sua vida; mostrou que todos eram importantes ao premiar cada aluno com uma medalha, reconhecendo o que eles sabiam fazer de melhor.

Porém, o melhor que ela fez por aquelas crianças foi ensinar que elas poderiam saber mais, sobre tudo o que quisessem, tinham um mundo a descobrir, e poderiam fazer isso por meio da leitura - na época ainda não tinham inventado a internet. Catarina fez o melhor que pode, e mostrou que quando ela fosse embora eles ainda poderiam sonhar e ser o que quisessem, pois só dependeria deles realizar. Esse é o verdadeiro papel do professor. Ajudar o outro a se libertar.

domingo, 9 de setembro de 2018

Tempo para mim


Hoje eu pude apreciar a minha companhia, me olhar no espelho, cuidar de mim por alguns instantes. Parece que há "séculos" eu não tenho tempo para mim. Quanto mais os anos passam, mais responsabilidades aparecem, mais obrigações, e eu ocupo cada minuto do meu dia tentando ser e fazer o que os outros esperam que eu faça. 

Tenho 25 anos, e estou fazendo a segunda facudade - a primeira me deixou tão infeliz que qualquer coisa seria melhor que passar todos os meus dias chorando. Alguns dizem que isso é capricho, ou devem pensar que é preguiça da trabalhar; mas não me importo, eu sei que foi falta de opção mesmo. 

Vou à aula de manhã, almoço na faculdade, e vou direto para o estágio. Tem dias que volto para uma aula à noite, ou alguma palestra. Outras vezes vou para a casa do meu namorado. Mas normalmente venho pra casa. Chego absolutamente cansada, ainda tenho trabalhos a fazer e conteúdos de prova a serem estudados. E é assim que eu tento sobreviver todos os dias.

Aos finais de semana, sequer vejo o tempo passar. Mais provas e trabalhos, lavar roupa, sapato, carro, limpar a casa. Quando pisco, já acordo na segunda-feira. 

Continuo tentando sobreviver. Ser uma boa namorada, boa filha, boa neta, boa irmã, boa tia, boa madrinha, boa estudante, boa estagiária. Às vezes não consigo ser boa para mim.

A cada dia que passa, perco um pouco mais as minhas boas amizades. Simplesmente porque minhas amigas não trabalham e estudam ao mesmo tempo - mas cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é - e não conseguem compreender porquê eu recuso praticamente todos os convites pra sair.

Talvez eu nunca tenha dito isso a nenhuma delas - não tão claramente. Mas é porque eu tenho mil e uma coisas pra fazer e o pouco tempo que me resta gostaria de descansar, repor as minhas energias, e ficar com a minha família, pois mesmo quem mora na mesma casa que eu fica um bom tempo sem me ver; até que eu decido deixar todo o resto pra lá, sentar e conversar.

Não é que eu não goste de vocês, nem que eu tenha ficado "metida" - isso me dá até um arrepio de pensar. Eu simplesmente estou fazendo tudo que está ao meu alcance. Porém, não consigo ter tempo para todos.

Olha que eu já tirei da minha agenda as aulas de dança, as sessões de cinema, os cuidados de beleza, a procrastinação sem fim, as visitas aos demais familiares - e milhares de outras coisas. 

Por que eu escolhi essa vida? Porque eu desejo mudar o mundo. Eu quero ser importante. Mas tem dias que isso cansa, e eu penso "deixa pra outra pessoa tentar mudar esse mundo, vai. Hoje eu só quero mesmo sentir que ainda estou aqui pra mim".

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Amar é um ato de coragem


Outro dia eu estava no centro espírita com minha família, ouvindo a palestra. Tenho duas sobrinhas - a Maria, que tem 2 anos; e a Manu, que tem 4 meses. Como toda criança cheia de saúde, a Maria não para quieta. Quer correr pra todo lado, interagir com as pessoas, e conversar.

Ela estava começando a falar faz pouco tempo, então cada palavrinha dita em casa era uma festa. Deve ter pensado: "que legal! eles adoram quando eu falo". E adoramos mesmo! Mas ninguém explicou pra ela que quando estamos no meio da palestra no centro é preciso ficar em silêncio pra que as pessoas possam entender o que está sendo dito.

Algumas pessoas levam esse negócio de silêncio tão a sério que esquecem que estão ali para aprender a amar, e realmente se irritam com as crianças. Então, de repente, lançam aquele olhar desafiador pra nós, como que dizendo: "esses aí não sabem educar uma criança. façam ela ficar quieta". Pois é. Eu também achava que era fácil. Até minhas sobrinhas nascerem. Portanto, não julguem.

Fiquei apreensiva, pensando se aquelas pessoas poderiam me bater ali no centro. Juro que, se tivesse um buraco no chão, minha cabeça já estaria ali dentro há séculos, só com o rabinho de fora, que nem ema. Mas, como podem imaginar, felizmente não tinha. Evita a humilhação isso.

No desespero, coloquei a fralda na boca da minha sobrinha, meio que de brincadeira, pra ver se ela parava de falar. Nem achei que fosse tão errado isso. Mas nessa hora minha mãe me olhou e disse: "Priscila, para com isso". Aquilo calou fundo na minha alma.

Na hora percebi que, por causa daquelas pessoas impacientes eu estava deixando de ser gentil com minha sobrinha, que é só uma criança, que não sabe que precisa ficar em silêncio, e que achou que nos deixaria felizes se conversássemos. Que vergonha senti!

Mais que isso, eu percebi que minha mãe não se importava se todos ali estavam contrariados. Ela nem ligou. Só cuidou pra que a Maria estivesse bem. Naquela hora entendi que isso era amor. Foi nesse dia que percebi que amar é um ato de coragem.

E mesmo que as outras pessoas não entendam, você sabe porquê ama. Ah... aqueles bracinhos, aquele sorriso e os olhos dela olhando nos meus. Como é bom ouvir a Maria dizer "diinda" quando eu chego.

Perdão minha princesinha. Sua dinda sente muito por esse dia. Mas agora eu aprendi a te amar sem me importar com as adversidades.

Quero ir além de mim


Eu sempre quis que minha vida fosse além de mim. Recebo tanto da vida! E há tantas pessoas precisando só de um pouquinho de luz... 

É um sentimento de alma. Uma necessidade de que a minha existência não tenha sido em vão. Talvez seja vaidade. Mas, no fundo, quero acreditar que é bem mais que isso. Não é que eu seja mais especial que as outras pessoas. Todos são especiais. É que nem todo mundo se deu conta disso ainda, ou não teve oportunidade de descobrir.

Simplesmente não consigo viver só pra mim. Todos os dias ainda acordo com meu coração latejando, com  vontade de mudar o mundo. E absolutamente todo dia me pergunto o que eu posso fazer para transformá-lo em um lugar melhor. Às vezes eu até posso ver uma luz que me ilumina por dentro e não pode mais ser apagada. É como se uma chama estivesse acesa no meu peito. Tão aconchegante.

Sempre procuro as melhores palavras pra expressar o que tô sentindo. Mas meu vocabulário ainda é tão pobre. Então empresto as palavras dos outros. Tem uma música que eu gosto muito, em inglês. Já vi a tradução várias vezes, mas alguns trechos ainda me escapam da memória. Por vezes mais sinto que penso nela. O importante dessa canção é o refrão dela; diz assim: "pegue sua vela e vá iluminar o mundo. vá para a escuridão, procure aqueles que estão só e abandonados; os pobres. Erga sua vela bem alto e ilumine o mundo!".

EU QUERO ILUMINAR O MUNDO. Com minha pequena chama. Com minha pequena luz. E com todo o amor que eu tenho aqui dentro do peito.

A questão é que estou mais pra um vagalume nesse mundão de Deus. Com uma luz ainda fraca. Mas não importa. Tenho certeza de que somos milhões de vagalumes! Não estou só. E quando a gente ilumina os outros, não é pra eles ficarem à nossa sombra. Não. É só um incentivo pra que eles acendam as próprias luzes e também iluminem por sua vez.

Outro dia me disseram que esse negócio de querer ir além da gente se chama "legado". É algo que faz com que, mesmo quando a gente morrer, ainda esteja bem vivo de alguma forma, nas coisas boa que fizemos e que outras pessoas continuarão. Talvez. Mas não acho essa palavra - "legado" - muito bonita. Parece um peso que tenho que carregar. Luz não. Eu gosto de luz. É leve. E não obriga ninguém a continuar nada. Cada um já tem os próprios afazeres.

Sou feliz, pois tenho muita luz pra iluminar esse mundo.

Mais amor por favor




Parece que o mundo virou de ponta cabeça, e os valores sociais estão invertidos. O ódio, a intolerância e a discriminação estão mais visíveis na sociedade. E isso me preocupa. Todos fingem ser felizes nas redes sociais, mas parecem mais interessados em aparentar a felicidade do que de fato senti-la. Nós vivemos em grupo e deveríamos cuidar uns dos outros, só que, ao invés disso, nos deixamos doentes.

Hoje eu decidi ser saudável mentalmente e feliz. E não há nada que vá me impedir.

Há alguns meses estou desconectada das redes sociais, e tem me feito bem. Lá não é um ambiente que reflete a realidade da vida. As pessoas postam apenas o que acham conveniente que as outras saibam, com o objetivo de competirem para ver quem tem uma vida melhor.

Hoje é dia de passar vergonha

 

Dia difícil logo pela manhã. Acordei atrasada e vim correndo pra faculdade. Precisava pegar um trabalho que meu namorado imprimiu pra mim e chegar a tempo de entregá-lo para o professor. Na pressa, quando vi meu namorado estacionei o carro em local proibido, liguei o pisca-alerta, estendi a mão pra pegar as folhas e sair logo dali antes de ser flagrada infringindo as leis de trânsito.

Ah se eu soubesse.. teria evitado a vergonha. Meu namorado - que vive passando no sinal vermelho - resolveu gritar a plenos pulmões: "isso é ridículo. não acredito que você vai parar em local proibido. pode estacionar em outro lugar ou não vou te entregar os papeis". ÓTIMO. Eu fiquei furiosa - mesmo sabendo que estava fazendo coisa errada - e estacionei bufando de raiva, enquanto o segurança da faculdade assistia minha vergonha de camarote e dava uma "risadinha". Aff. Emputecida, mal falei com meu namorado, vim pra aula pra não chegar mais atrasada, e mandei um "textão" esculhambando ele no whatsapp.

Poxa vida, sei que muitas vezes também trato mal as pessoas que me amam [Só pode ser um mal do ser humano - quando sabemos que a pessoa vai estar ali apesar de todas as dificuldades, achamos que podemos descontar nossas frustrações e tratá-las sem a devida gentileza]. Mas isso está errado. Todos precisamos aprender a ser gentis com os outros, principalmente com aqueles de quem gostamos. Afinal, já basta o mundo, que deixa a desejar em matéria de gentileza.

Depois, na sala de aula, tento ser paciente e prestar atenção ao que a professora explica [mesmo achando que nosso sistema de ensino falido usa métodos arcaicos e lutando todos os dias pra levantar pra cama e vir pra faculdade, como quem se submete à uma tortura]. Mas meu pensamento borbulha, e fico aqui me perguntando como mudar o mundo e levar conhecimentos úteis para as pessoas que precisam.

Aí, no meio da aula, enquanto vejo projetos de algumas ONGs - como o Politize!, ótima por sinal - abre um vídeo aleatório com uma mulher falando "na américa latina e no caribe blablabla" e, como eu tinha esquecido de deixar o computador no mudo, todos - inclusive a professora - tiveram a mais absoluta certeza de que eu não estava prestando atenção na aula. Mais um constrangimento que poderia ser evitado.

Depois disso, não satisfeita com o abalo emocional que a minha autoestima já teve hoje - e olha que ainda são 10 da manhã! - resolvi escrever outra vez no blog. Ensaio tanto! E nunca escrevo. Por vergonha.

Mesmo sabendo que meu público é zero, tenho receio de que alguém leia as confissões mais íntimas da minha alma aqui e me julgue por isso. Só que hoje eu cansei. Podem me julgar. Sou mais que seus julgamentos.

Sabe, todos os dias a vida me presenteia. Tenho aprendido lições maravilhosas que mudaram completamente meu jeito de ver a vida e a minha maneira de pensar. São tantas coisas boas que eu tenho vontade de sair por aí,  gritando pro mundo as descobertas que batem à minha porta. É como se minha alma tivesse tão preenchida agora que transbordasse. E sinto uma necessidade enorme de fazer com que as outras pessoas também possam desfrutar de todas as alegrias que tenho tido ultimamente.

Enfim.. esse texto foi só pra lembrar que eu estou viva. E estou de volta. E vou escrever, ainda que meus textos não se comparem à literatura de Jorge Amado. Vou escrever pela simples necessidade de dividir os pensamentos que se multiplicam. Vou escrever porque desejo me libertar do medo e da vergonha - que nada mais é do que o medo do que pensam de mim. Escrevo por rebeldia. Para incentivar minha coragem. E libertar minha alma. Por isso escrevo.